06. DIA DE SAÍDA
CAPÍTULO SEIS
❛ dia de saída ❜
POV NOELLE
— ACHO QUE UM DIA FORA SERÁ BOM PARA NÓS DOIS. — Eden olhou para mim no banco do passageiro do carro que seu pai lhe deu algumas semanas atrás. — Eu amo o shopping. Ele tem tudo o que podemos precisar em um só lugar. E você sempre quis fazer o cabelo e as unhas. Não há melhor hora do que o presente, certo?
Eu balancei a cabeça em concordância vaga. Eu pensei que o verdadeiro motivo dela querer ir era porque, enquanto eu estava fora no fim de semana, ela tentou cortar a franja e dar a si mesma camadas. Agora, seu cabelo preto na altura dos ombros estava na altura dos ombros apenas em alguns lugares, e sua franja estava em uma inclinação perversa.
Deixando o trauma capilar de lado, a Dra. Lajoie sempre nos dizia para viver o presente - o presente da vida. Não o passado ou o futuro. Então, hoje pareceu um bom dia para eu finalmente ter minha primeira experiência em salão.
Ontem à noite, cedo, meu pai me deixou em De Haan depois da minha primeira visita de fim de semana em sua casa. Além de ver minha avó, o fim de semana foi decepcionante. Estupidamente, eu tinha sonhado acordada com meus pais me contando tudo sobre os últimos dez anos de suas vidas e compartilhando histórias fofas e felizes de infância sobre mim para trazer minhas memórias de volta e nos ajudar a criar laços. Em vez disso, eles foram educados e amigáveis, mas distantes. Quando meu pai anunciou, depois do jantar, que era hora de me levar de volta ao meu apartamento nos confins de De Haan, eu me senti aliviada. E não pude deixar de notar que eles pareciam igualmente aliviados.
Pelo menos eu tinha o álbum de fotos da vovó, que Eden e eu ficamos acordadas até tarde olhando juntos. Eden disse que quase ninguém tinha fotos impressas de verdade e que minha avó deve ter sido incrível por ter impresso todas elas como ela fez e etiquetado.
No caminho para o shopping, Eden me leva ao meu primeiro drive-tru para pegar uma bebida Starbucks para cada um de nós (também uma novidade para mim), explicando que ela leu recentemente nas redes sociais que toda manhã deve começar com um bom café ou então estaríamos condenados a ter um dia de merda. Eu não achava que a pessoa que fez aquela postagem tinha alguma ideia do que um dia de merda realmente implicaria, e eu tinha certeza de que se Eden ou eu comentássemos e compartilhássemos nossas porcarias passadas com ela, repensaria sua crença de que café com a quantidade perfeita de espuma poderia tornar o dia de uma pessoa melhor.
Dito isso, enquanto eu saboreava o sabor de maçã caramelizada que Eden pediu para mim, a cremosidade quente e doce era muito agradável.
— Não se esqueça que seu pai lhe deu um cartão dourado e disse que você pode gastar o quanto quiser. — Eden me lembrou no caminho para o shopping, depois de passar meia hora procurando a vaga de estacionamento mais próxima possível. — Acho que ele se sente muito culpado, assim como meu pai, e acha que comprar coisas para nós vai melhorar tudo. Não acho que haja nada de errado em aceitarmos isso e comprarmos algumas coisas, certo?
— Certo. — eu disse porque sabia que era isso que ela queria ouvir. Eden foi abusada sexualmente pelo padrasto quando era mais nova, e seu pai biológico não entrou em cena até que Eden desenvolveu um vício em drogas, três anos atrás, aos dezessete anos, e entrou em depressão severa. Seu padrasto foi para a cadeia, e sua mãe se mudou. Eden já estava no programa de terapia em de Haan quando cheguei, e nós duas fizemos a transição para o status residencial ao mesmo tempo.
Durante nossa estadia em de Haan, Eden e eu ocasionalmente íamos às compras com algumas das outras meninas. Isso fazia parte do nosso programa de tratamento - sair para o mundo. Essas saídas não eram nada parecidas com minha experiência atual com Eden, que assumiu a responsabilidade de me levar a todas as suas lojas favoritas e escolher roupas para mim. Eden costumava fazer muitas compras antes de se tornar paciente em de Haan.
Deixei que ela me arrastasse para cada loja e escolhesse roupas para mim porque isso parecia deixá-la feliz. E ela era boa nisso. Tudo o que ela escolhia servia perfeitamente em mim. Quando nossas mãos estavam cheias de sacolas de compras, ela me levou a um salão no outro extremo do shopping para fazermos as unhas. Então ela me convenceu a cortar e pentear meu cabelo enquanto ela arrumava o dela. Mesmo que eu me sentisse completamente sobrecarregada e ansiosa para voltar para casa, eu concordei com tudo isso, esperando me sentir animada com coisas de menina porque parecia que era algo que eu deveria ter gostado, e eu queria me encaixar.
— Você está linda, Noelle. — disse Eden quando o estilista terminou comigo. Sorri para seu reflexo no espelho da estação do estilista e levantei minha mão para tocar meu cabelo, que parecia incrivelmente macio e sedoso. Eu nunca soube que o cabelo poderia ser tão macio. Enquanto me olhava no espelho, percebi que parecia uma versão jovem da minha mãe. Eu estava bonita. Eu parecia tão... Normal. Assim como as garotas bonitas da TV. Eu sabia que, aqui no mundo real, o exterior das pessoas parecia importar mais do que o interior. Aprendi rapidamente que a ilusão da aparência sempre superaria a verdade do que estava dentro.
— Obrigada. — respondi automaticamente. — Parece tão diferente. Adorei.
— Era como palha antes. Você está realmente incrível. — Eden abriu o zíper da bolsa, vasculhou e, triunfante, tirou um pequeno tubo prateado. — Vamos só dar um pouquinho de cor para polir você.
Eu congelei quando ela veio até mim com o batom, a ponta cerosa vermelho-sangue brilhante. Seja uma garotinha bonita e má para mim... — Não... — eu choraminguei. Eu me afastei e bati na mão dela, fazendo o batom voar. Ele caiu no chão e rolou para baixo das pias. — Não! — eu gritei, explodindo em lágrimas. — Eu não quero mais fazer isso!
Eden e o estilista olharam um para o outro e depois para mim, forçando sorrisos estranhos em seus rostos.
— Noelle, o que houve? — minha colega de quarto perguntou, olhando ao redor do salão para as outras mulheres que nos encaravam.
— Chega de batom. — sussurrei, meu corpo tremendo. — Não quero mais ser uma menina má.
— Jesus Cristo. — Eden murmurou, respirando fundo e jogando seu cabelo recém-estilizado sobre o ombro. — Outro gatilho? Sinto muito. Que porra de merda ele fez com você?
O estilista pairou atrás de nós, com a mão na garganta. — Está tudo bem? Posso pegar um pouco de água para você?
— Ela está bem, Darla. — Eden lançou-lhe um sorriso amigável. — Ela só teve um flashback. Dê a ela um segundo, e sairemos do seu caminho.
Darla ficou boquiaberto, seus olhos arregalados. — Oh! Eu pensei que você parecia familiar... — sei tom era baixo, mas ainda alto o suficiente para todos por perto ouvirem. Eu senti minhas bochechas corarem com calor. — Você é a que foi levada anos atrás, certo? Meu Deus, eu estou apenas me lembrando de toda a cobertura da mídia do dia em que você foi encontrada... Eu não tinha percebido... Aquele bastardo merecia morrer.
Gatilho. Lavada. Flashbacks.
Enchi meus pulmões de ar e contei até dez, evitando meu reflexo no espelho. Quando pensei no homem mau, senti-me em conflito e enjoada. Por mais que ele me machucasse, ele foi a única pessoa a me mostrar qualquer tipo de atenção ou cuidado por dez longos anos. Ele era tudo o que eu tinha, além da TV. Claro, eu sabia agora que suas ações não eram nada atenciosas e eu era apenas um brinquedo que ele mantinha vivo para brincar. Mas na época, ele era tudo o que eu conhecia. Eu era apenas uma criança e precisava de alguém. Aprendi a desejar sua presença, a afastar a escuridão e o silêncio sem fim enquanto estava presa naquele porão escuro. Enquanto minha mente jovem sabia que ele havia tirado tudo de mim, eu também sabia que ele era o único que poderia me dar qualquer coisa. Isso gerou um conflito de amor e ódio muito confuso em mim que só cresceu ao longo dos anos.
Quando pensei no meu anjo, senti uma sensação de calma e segurança interior, como senti naquele dia em que ela me tirou do porão e me segurou. Ela foi a primeira pessoa a me fazer sentir algo novo, sentimentos tão completamente diferentes de tudo que senti nos últimos dez anos. Às vezes, se eu fechasse meus olhos, eu quase conseguia sentir seus braços fortes ao meu redor, me protegendo, me salvando. Eu ainda conseguia me lembrar da maneira como o castanho de seus olhos tirava meu fôlego, e como sua voz me acalmava. Ela ainda se infiltrava em meus sonhos e me assombrava em minhas horas de vigília. Eu não a tinha esquecido, nem por um momento, e eu ainda estava esperando por ela.
Eu nunca pararia de esperar e ter esperanças por ela.
Muitas vezes me perguntei se ela se lembrava de mim e se alguma vez pensou em mim.
Ela lembra. Eu sei que ela lembra. Só temos que esperar o momento certo.
Eden deu um tapinha no meu ombro, o que deveria ter sido reconfortante, mas não foi. Não quando eu estava desejando por ela agora. — Sim. — ela disse a Darla, um pouco bruscamente porque nenhuma de nós queria ser lembrada como as vítimas que já fomos. — Mas ela está bem agora. Eu só a assustei por acidente. — ela apertou meu ombro, tentando me confortar e me enviando uma dica para, por favor, não nos envergonhar novamente. Seus olhos encontraram os meus no espelho. — Você está bem agora, certo, Noelle?
Eu assenti e forcei meus lábios a sorrir. Era uma máscara que eu sentia que usaria pela maior parte da minha vida. — Estou bem. Sinto muito. Vermelho simplesmente não é minha cor. — eu balancei meu novo cabelo saltitante como ele fez alguns momentos atrás e me levantei da cadeira. — Estou uma bagunça total. Estou pronta para ir.
Eden e Darla compartilharam um sorriso aliviado que irradiou para as outras mulheres no salão, que voltaram a conversar, mandar mensagens e queimar tinta no cabelo e na pele. A crise havia acabado. Ninguém teve que confrontar a coisa ruim na sala.
Meu coração ainda estava acelerado quando Eden e eu passamos pelo batom no chão e fomos para o saguão da frente, onde ela pegou alguns frascos rosa-choque de uma prateleira de vidro. — Vamos comprar um xampu e um condicionador bons. Podemos dividir em casa. Merecemos ter o melhor depois da merda ruim que passamos. — ela disse casualmente. Como se um xampu e um condicionador bons pudessem de alguma forma remover a "merda ruim" que nos fizeram. Comprar coisas parecia confortá-la, mas me deixou um pouco confusa. Não achei que nenhuma dessas pessoas me entenderia, talvez nem mesmo Eden. A Dra. Lajoie me disse para aceitar isso e não guardar rancor das pessoas. Era assim que o mundo era - as pessoas não queriam se envolver pessoalmente. Elas cobriam as coisas, as enterravam e as mascaravam.
Eu não tinha certeza se conseguiria viver daquele jeito. Ou se eu ao menos queria.
Estremeci com as palavras de Eden e sorri sem jeito com o olhar questionador que a garota atrás do balcão lançou para mim. Ela desviou o olhar de volta para o caixa.
— Isso seria ótimo. — respondi, usando minha frase preferida. Isso deixou todos felizes e os deixou à vontade, mesmo que minha entrega não tenha sido ótima. Finalmente, saímos do salão, e deixei Eden assumir a liderança para que eu pudesse dar um tempo de fingir sorrisos. Meu rosto estava começando a doer de me forçar a parecer feliz quando tudo o que eu queria era chegar em casa e me esconder no meu quarto pelo resto da noite. Eu só conseguia me aventurar por um tempo antes de começar a me sentir estressada, e meu medidor de não mais disso estava oscilando no nível dez agora.
No caminho de volta para a saída do shopping, Eden me levou para uma boutique que vendia joias, roupas e decoração para casa feita por artesãos locais. Fiquei impressionada com todas as coisas lindas para escolher, e ela me ajudou a escolher alguns cachecóis e uma pulseira e colar feitos de contas de vidro sopradas à mão. Fiquei tão encantada com todas as coisas bonitas que quase apaguei o fiasco do salão da minha memória.
O celular dela tocou e ela levantou o dedo para mim enquanto atendia, sinalizando que voltaria em alguns minutos. Assentindo, continuei a andar pela loja até que uma coleção de pequenas fotografias emolduradas em preto na parede chamou minha atenção. Havia quatro, todas tiradas de um abeto solitário na floresta coberta de neve, decoradas com enfeites de Natal. Em uma foto, uma pequena raposa vermelha estava sentada a alguns metros de distância, olhando para a câmera enquanto a neve caía ao seu redor. Quando eu era pequena, eu era fascinada por todas as coisas do Natal. Essas eram memórias que eu nunca esqueci. A única coisa que eu esperava enquanto estava em cativeiro era assistir a todos os filmes e desenhos animados de Natal na minha televisão. Claro, eu nunca sabia quando eles passariam, então sempre era uma surpresa quando os comerciais e filmes de Natal finalmente começavam a passar. Eu nunca ganhei nenhum presente do homem mau, mas eu era grata pelo mundo de fantasia em que a TV me deixava viver.
— Elas não são lindas? — uma vendedora se aproximou de mim enquanto eu olhava as fotos, e rezei silenciosamente para que ela não me reconhecesse.
Estendi a mão e toquei uma moldura como se de alguma forma isso me conectasse mais intimamente à foto, me trazendo para sua cena e me deixando ficar lá. — Elas são. — eu disse, minha voz baixa com admiração. — Eu as amo. — e eu quis dizer isso. Eu estava apaixonada por aquelas fotos, e não tinha ideia do porquê.
— É uma lenda legal. — ela acenou para as fotos.
— Lenda? O que você quer dizer?
Ela inclinou a cabeça para mim e sorriu, sem reconhecimento nos olhos. — Você não deve ser daqui. É uma lenda infantil fofa nesta área - o Papai Noel da Floresta.
— Papai Noel da Floresta — fiquei imediatamente intrigado.
Ela assentiu, sorrindo para mim. — Sim, nos últimos... Talvez trinta anos ou mais... Alguém decora árvores aleatórias lá no alto da floresta, no meio do nada, perto do Natal. Os caminhantes geralmente encontram as árvores, e os fotógrafos estão sempre procurando por elas, e é por isso que tivemos a sorte de ter essas fotos. Ninguém sabe quem as decora, então, em algum momento, ele ou ela recebeu o apelido de Papai Noel da Floresta. Há um mito de que os animais da floresta podem falar na véspera de Natal, então parte da lenda é que o Papai Noel da Floresta decora as árvores com eles e celebram o Natal juntos. As crianças adoram a história.
— Gostaria de comprá-las, por favor. — eu disse, sem tirar os olhos das fotografias. Eu estava cativada pelo sentimento mágico das fotos e pela lenda por trás delas, e agora eu não conseguia suportar a ideia de não poder olhar para elas quando quisesse.
A vendedora olhou para mim; então ela olhou para as quatro fotos. — Elas são bem caras, duzentos dólares cada...
— Está tudo bem. — interrompeu Eden, aparecendo de repente ao meu lado com um grande sorriso. — Ela vai levar todos os quatro. Você pode embrulhá-los para ela?
— Claro! — disse a vendedora, respondendo instantaneamente ao comportamento confiante de Eden, que eu sabia que era tudo uma encenação que ela representava muito bem. — Vou encontrá-la no caixa com elas. — a vendedora cuidadosamente as tirou da parede.
Nervosismo sacudia meu estômago. Dinheiro não era um conceito com o qual eu me sentia confortável, e eu simplesmente não sentia que tinha o direito de gastar o dinheiro de outra pessoa. Especialmente o do meu pai. Ele mal falava comigo.
— Eden... Isso é muito dinheiro, e eu não preciso deles. Eu não sabia...
Minha amiga levantou a mão para me fazer calar. — Noelle, pare. Você tem permissão para ter coisas. Eu sei que você provavelmente não sabe disso, mas seu pai ganha muito dinheiro. Ele me chamou de lado ontem à noite, quando você estava colocando sua mala no seu quarto, e me disse para ter certeza de que você comprou tudo o que queria depois que eu disse a ele que íamos às compras.
Mordi o lábio. — Tem certeza? Não estou acostumada a comprar coisas.
— Eu sei - é para isso que estou aqui. Sou uma profissional. — ela sorriu e enlaçou seu braço no meu. — Vamos, vou deixar você deslizar o cartão. É totalmente viciante.
Eram quase oito horas quando Eden e eu estávamos a caminho de casa em De Haan. Estava escuro lá fora, mas ainda mais escuro dentro do carro dela devido às janelas escuras. Eu apertei os olhos, meu olhar vagando pelo interior do carro. A escuridão me lembrou de estar no porão, a sujeira em minhas narinas, os sons da floresta à noite me assustando. Eu podia ouvir coisas andando por aí à noite, e eu nunca sabia se era meu captor ou um animal selvagem.
— Você gritou por socorro enquanto estava no porão na floresta? — perguntou a policial.
— Não... Nunca. — respondi.
— Por que não?
— Acho que esqueci que alguém me ajudaria.
Pensei que íamos apenas às compras, mas Eden me surpreendeu ao me levar também ao seu restaurante favorito para jantar. Olhei para ela, desconfortável, enquanto seus dedos bem cuidados digitavam uma mensagem com uma mão enquanto ela dirigia o carro com a outra. Eu não tinha um celular, e o apelo insano deles passou despercebido para mim. O que pode ser tão interessante em um pequeno telefone?
— Desculpe... Jeremy está me contando sobre o dia dele. — ela disse, se referindo ao seu meio-namorado, um cara que ela conhecia desde muito jovem, que era principalmente um amigo, mas estava lentamente se tornando mais. Ela colocou o telefone no console entre nossos assentos, e eu pude respirar um pouco mais aliviada sabendo que ela estava de olho na estrada e no trânsito ao nosso redor. — Você está se sentindo bem agora? Desculpe pela coisa do batom...
— Está tudo bem. Você não tinha como saber. Só me sinto mal por ter te envergonhado.
— O cara... Ele fez você usar batom? — ela era a única pessoa que pedia detalhes sobre o que aconteceu comigo, e eu geralmente não me importava em contar a ela.
Mordi o lábio, dividida entre querer contar a ela e não querer lembrar de nada. — É. — finalmente admiti, me sentindo envergonhada, embora o meu lado lógico soubesse que não era culpa minha. — Batom vermelho brilhante. Ele tinha passado em mim antes de... Me tocar.
Ela fez uma careta. — Deus, isso é doentio pra caralho. É como a merda que você vê nos filmes. Estou tão feliz que o marido da minha mãe não fez merdas estranhas como essa comigo. Ele só gostava de ficar bêbado e me apalpar pra caramba.
Só de pensar em vermelho e batom comecei a entrar em pânico, e comecei a suar frio. Eu reprimi essa sensação e forcei as imagens e sentimentos de medo para longe. Eu não queria surtar de novo, ou Eden pode não querer me levar para sair em público de novo. Usei o exercício de respiração e visualização que a Dra. Lajoie me ensinou a fazer quando me sentia sobrecarregada com emoções.
Contando até dez, fechei os olhos com força. Mordi o lábio inferior e tentei limpar a mente. Forcei meus pensamentos para longe dessas memórias e para um território menos perigoso. Pensei no meu anjo, suas palavras me prometendo que eu ficaria bem. Pensei nos meus livros e nas histórias que sempre me deram conforto. Pensei nos abraços da minha avó. Pensei nas minhas novas fotos de Natal. Logo me senti melhor. Menos fora de controle.
De acordo com a Dra. Lajoie, eu sofria do que era chamado de transtorno de estresse pós-traumático, e provavelmente teria que lidar com isso pelo resto da minha vida. O foco dela era me ensinar como entender os gatilhos que eu enfrentaria e como lidar com eles calmamente, especialmente em público. O que eu acho que falhei hoje. Falar sobre como lidar com gatilhos na segurança do consultório dela era muito diferente de vivenciá-los na vida real, e agora eu estava completamente exausta daquele dia.
Abri os olhos e olhei discretamente para Eden. Ela não pareceu notar minha ansiedade, sua atenção na estrada e no rádio. Aquela pequena informação sobre meu passado pareceu tê-la satisfeito, então não dei mais detalhes. Estávamos quase em casa, e eu estava ansiosa para ficar sozinha e esquecer as partes ruins do dia.
Eden parecia ter se recuperado do abuso melhor do que eu, e eu estava com um pouco de ciúmes. Quando nos conhecemos no ano passado, ela era quieta, deprimida e retraída. Agora ela estava muito mais feliz, como se um grande peso tivesse sido tirado dela. Muitas vezes eu me perguntava como ela se sentia em relação a mim como amiga. Ela sentia pena de mim? Enojada de mim? Sua cabeça balançava levemente com a música que vinha do som do carro, alheia a mim observando-a. Eu queria poder ser tão despreocupada quanto ela parecia ser ultimamente.
Paramos em um semáforo, e Eden pegou seu telefone novamente e digitou freneticamente no pequeno teclado, iluminando o interior do carro. Eu esperava que ela não estivesse contando a Jeremy sobre mim e o incidente do batom vermelho.
O rugido estrondoso de um caminhão velho parando ao nosso lado me assustou, e eu olhei pela janela para o motorista. Era o começo de outubro, mas, mesmo com um frio no ar, tudo o que ela estava vestindo era uma camisa preta com as mangas puxadas para cima. Cabelos castanhos escuros e longos chegavam até o meio das costas. Ela deve ter sentido meu olhar porque se virou de lado para mim.
Eu engasguei...
Seus olhos estavam escondidos atrás de óculos escuros.
Mas não foi isso que me fez quase sair do assento e pular na estrada. Sentei-me um pouco para frente e me inclinei para mais perto da janela escura, sem ter certeza de que ela poderia me ver.
Meu coração disparou no peito, e me inclinei ainda mais para perto da janela, minha respiração batendo contra o vidro frio, meus olhos fixos na mão dela, presa ao volante.
A última vez que vi aquela mão, ela estava apertando a garganta do homem que me manteve por dez anos.
Meus olhos se arregalaram, examinando-a. O formato dos ombros, os músculos dos braços flexionando, os fios de cabelo soltos balançando na brisa. Uma dor indescritível queimou através de mim, um desejo como nada que eu já havia sentido antes.
Olhe para mim, olhe para mim!
Eu queria gritar. Eu queria que ela me visse. Eu preciso que ela me reconheça.
Estou aqui!
Mas seu olhar não se demorou. Sua cabeça virou para o outro lado, e ela acelerou o motor.
Não! Ela ia me deixar de novo. Eu ia perdê-la de novo. Lá estava ela, a apenas seis pés de mim - a mulher que me salvou. Meu lindo e forte anjo. Minha respiração ficou presa quando ela pisou no acelerador e então saiu em disparada pela estrada escura, desaparecendo em instantes.
Gostaria de poder tê-la impedido.
Gostaria de poder agradecer a ela e dizer que sinto muito pelo que ela passou por mim.
Mas, acima de tudo, eu queria dizer a ela como a esperei.
Esperei por ela e sonhei com ela por tanto tempo.
Como eu ainda estava esperando.
Seria possível desejar que alguém surgisse do seu coração?
Sim. Sim, é.
Agora só precisamos nos reencontrar.
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